05 julho 2008

Uma Bandeira Diferente.

Como a tevê lá de casa agora capta imagens de planetas distantes, eu acabo minha lição e ligo para ver as Olimpíadas da Terra. É tão emocionante! Já disse para meus pais que quando crescer quero ser pesquisadora. Do planeta Terra.
Meu interesse começou durante a excursão que fizemos pela Via Láctea. Num dos sistemas solares conhecemos a Terra, um planetinha azul. Achei lindo, cheio de nuvens branquinhas, oceanos, rios e montanhas. A professora explicou que era um planeta novo, com vida abundante e milhões de espécies. Aprendi que sua espécie dominante, o Homo sapiens, está no estágio inicial da tecnologia digital e ainda não descobriu os portais dimensionais para viajar pelo cosmos. Vimos no telão cenas de sua história, momentos marcantes, guerras, descobertas. Vimos o cogumelo atômico. Vimos os humanos pisando na Lua. No fim, para nossa decepção, a professora explicou que o planetinha está morrendo, uma morte prematura causada pelo próprio Homo sapiens, que não sabe cuidar do lugar onde vive.
Fiquei chocada. Foi a primeira vez que vi um planeta morrendo e isso me fez chorar. A professora me acalmou e disse que isso ocorre quando a espécie dominante não respeita as leis da vida. Perguntei se não podíamos salvá-lo e ela explicou que a Confederação Galática não aprova interferências em planetas não confederados. Mas já que eu havia gostado tanto do planetinha azul, ela disse que eu poderia ser uma pesquisadora e aí estudaria sua história, acompanharia seu dia-a-dia e, quem sabe, poderia até ajudá-lo. Isso me alegrou.
Vejo que vocês, da Terra, são orgulhosos de suas Olimpíadas. É realmente uma linda festa, os países levando seus representantes, o colorido das bandeiras, pessoas de tantos lugares reunidas pelo ideal olímpico. Faz-me lembrar da história do meu planeta… Antigamente meu povo não se considerava uma só raça e por isso nos dividíamos em muitas nações, guerreando por riquezas, territórios e religião. Tínhamos medo de quem era diferente e por isso nos matávamos uns aos outros. É uma parte muito vergonhosa de nossa história.
Então um dia, durante as Olimpíadas do meu planeta, algo incrível aconteceu. Uma atleta campeã subiu ao pódio, recebeu a medalha de ouro e ergueu sua bandeira. Mas não era a de seu país. Era uma bandeira diferente, com a imagem do nosso planeta visto do espaço e no centro dele pessoas de cores diferentes de mãos dadas. Foi uma grande surpresa. O estádio inteiro aplaudiu e o mundo todo comentou. Outros atletas fizeram o mesmo e assim, durante aqueles dias, a bandeira do nosso planeta foi a mais fotografada de todas.
Foi como uma reação em cadeia. A partir desse dia, em todos os países as pessoas saíram às ruas com a nova bandeira. Ela apareceu nas camisetas, nos carros, na televisão, como se fosse o símbolo de um novo ideal, um ideal de todos os povos cansados da guerra, do preconceito e do desrespeito à vida e ao planeta. As pessoas saudavam o nascimento do novo símbolo que emergia do fundo da alma de todos falando de paz e unicidade, de um mundo unido e sem divisões.
Mas houve resistências pois nem todos queriam a unificação. Houve conflitos e mortes. Porém nada pôde deter o movimento e a partir de então as pessoas passaram a se considerar cidadãs, não de seus países pois já não havia fronteiras, mas cidadãs do planeta. E passaram também a se considerar membros da mesma família pois lembraram que todos eram o povo do mesmo planeta. Algum tempo depois não tínhamos mais guerras e, assim, finalmente unificados, fomos admitidos na Confederação Galática e passamos a participar de uma Olimpíada muito maior e mais bonita.
Tenho que entregar agora minha redação. Meus colegas escreveram sobre planetas próximos mas eu preferi escrever sobre a terceira pedrinha ao redor daquele Sol, que um dia tanto me cativou. Agora irei para casa, quero ver os jogos da Terra. E torcer muito. Para qual país? Eheheh… Para nenhum. Torcerei para que um dia, de repente, algum atleta suba ao pódio e erga uma bandeira diferente. Será tão emocionante!


Kelmer.

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